(13 de julho de 1990)
Helio Abreu Filho – www.helioabreu.com.br
São
as mobilizações sociais que possibilitam as pessoas mudarem de hábitos e
transformarem suas realidades. Como exemplo disso, temos a luta dos
atores do sistema de garantias de direitos no intuito de mudar a cultura
em relação ao trabalho infantil e as diferentes formas de violência
intrafamiliar.
A
articulação e mobilização tentam pautar a sociedade para transformar os
paradigmas de práticas sociais que perduram durante séculos,
especialmente no que se refere ao tratamento destinado às crianças e
adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Nesses
22 anos de Estatuto da Criança e do Adolescente, diversos programas e
serviços foram criados, implementados e desenvolvidos.
Temos avanços significativos, tais como: criação de banco de dados
sobre situações de violência; queda de 50% no trabalho infantil; 70 mil
pessoas atuando em rede de proteção; melhoria do acesso ao ensino
fundamental e educação infantil; criação de centenas de Varas
Especializadas da Infância e Juventude.
Agora
se faz necessário rever a caminhada e descobrir novos desafios. E aí
importante será compreender que a implementação da Política dos Direitos
Humanos de Crianças e Adolescentes depende de uma série de ações e
compromissos por parte dos governos: compromisso ético, vontade política
de transformação e prioridade no investimento de recursos públicos.
Ora,
estamos em momento eleitoral, importante será conhecer os compromissos
dos postulantes para com as crianças e jovens e o que pensam quanto aos
reflexos financeiros no Orçamento Municipal. Mas, o que eles, jovens
pensam e desejam? Nas Conferências bianuais tem ficado claro: atendimento
24 hs por profissionais humanizados; maior divulgação de programas de
prevenção quanto a DST, drogas, tabagismo, sexualidade e meio ambiente;
espaços públicos abertos nos finais de semana (esporte, lazer e
encontros); Escolas profissionalizantes que em parceria com empresas e o
Poder Público promovam cursos para o primeiro emprego; continuidade e expansão do PROERD (Polícia Militar).
Há
mais o que fazer? Não podemos esquecer que adolescentes já trazem em
sua bagagem, dores, angústias e muita ansiedade com relação ao mundo
conturbado em que vivem. Encantada com as possibilidades, uma jovem
educadora (São Leopoldo) começou a levar à escola um pequeno
instrumento, que foi capaz de conscientizar muitas mentes
infanto-juvenis para seu papel de protagonistas da sociedade
contemporânea. O que essa professora não imaginava era que trabalhar com
um livreto do Estatuto em sala de aula fosse provocar tantas reações
nos adolescentes, frente a fatos corriqueiros de nosso cotidiano.
Tratava-se
da 8ª série de um colégio da rede privada e seus estudantes não tinham
seus direitos infanto-juvenis violados, mas nem por isso o Estatuto da
Criança deixou de ter valor e o poder de transformar suas vidas. Depois dessas aulas com o ECA, eles passaram a ver o mundo de outra maneira.
A disciplina lecionada chama-se Seminário de Cidadania. Os olhares das
crianças voltaram-se para si mesmos e puderam aprender a história dos
direitos humanos e o exercício da cidadania; os deveres e direitos dos
cidadãos (direitos-deveres); construir suas identidades por meio
do acesso aos bens sociais e culturais, do respeito ao bem comum e às
diferenças; o protagonismo e a consciência sobre a responsabilidade no
âmbito público e privado.
E a lição que fica nestes 22 anos do ECA? É a de que os
direitos existem e, muitas vezes, não são postos em prática por omissão
ou passividade da comunidade, seja por medo ou individualismo. Essa
sociedade nos torna acomodados e enquanto não acontecer conosco "não é problema meu".
Esperamos para agir apenas quando algo de mais grave, um fatalidade
acontece. Ora, aprendamos de uma vez por todas: - temos que ser ativos
em defesa de nossas crianças e adolescente e de nós mesmos!
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